Parado,
olhar distante, dividido entre meus fartos pensamentos e o leve e sedutor reflexo
da luz solar nas nuvens, movimento do fim da tarde dando lugar ao balé
iluminado das estrelas na noite. O show de cores crepusculares dando lugar à
noite de gala estrelada.
Perplexo com tanta beleza e com a alternância entre
dia e noite e a forma dialógica como estes opostos se encontram para fazer
acontecer vida, vida no sentido natural, vida no sentido estético, vida no
sentido poético, filosófico...
Perdido
em tantos pensamentos e possibilidades, já em estado de êxtase contemplativo, quando
diante dos meus olhos surge a tua silhueta delicada e de movimentos graciosos.
Quanta beleza!
Por um instante pensei estar diante de um solo de uma das divas
do ballet, mas não, era você! Meu coração disparou, pensei, só pode ser uma
miragem, um delírio da minha mente fértil e carente, um sonho que talvez nunca
tenha sido sonhado. Um sonho! Não pode ser!
Sai
ao teu encontro como um louco quando percebi que flutuava, não tinha o chão nos
pés, me senti como uma bexiga inerte no ar entregue ao vento. Não consegui mais
andar. Entrei em pânico. Despertei.
Será mesmo um sonho? Fechei os olhos,
respirei fundo e lá estava você de novo. Você veio em minha direção – o corpo
humano é impróprio para sentir estas sensações, tive a impressão de que iria
explodir diante de sentimentos plenos e desconhecidos, o corpo meio que entra
em colapso e a mente precisa estar concentrada e leve para desfrutar cada
instante. – foram alguns segundos, mas suficiente para que eu me fizesse mil
perguntas e me encantasse com cada movimento teu, naquele instante tudo era
música, poesia, festa...
Minha
mente estava em êxtase, mas só tinha uma coisa que ainda me perturbava. Quem é
você? Como entras no meu sonho desse jeito? Se é que isto é um sonho, não sei!
Mostre-me teu rosto! E por segundos esqueci as perguntas e fui tomado pelo
desejo, desejo de tê-la para mim, Ah! Como é triste o desejo, só desejamos o
que não temos e os momentos até o encontro são de dúvidas novamente.
Estarei eu
após este tão sonhado momento insatisfeito com ela de modo que continuarei
desejando o que não tenho? Ou me contentarei em regalar-me nos teus braços cada
instante da minha vida, gozando da plenitude do teu ser, esquecerei os desejos
vulgares e meu único desejo será estar com ela?
Quando
enfim ela se aproxima, toca minha face com sua mão delicada e macia. Consigo
ouvir sua respiração. Estou num estado meio letárgico; ao mesmo tempo em que a
sinto e tenho algumas certezas como num sonho não consigo ver sua face, ainda
resta um raio de sol no horizonte por onde ela esconde sua identidade, o que
mais desejo ver, seu rosto.
Ela se aproxima mais para me beijar a face e eu na tentativa
de identificar seu rosto até que o último raio de sol se esconde no horizonte,
eis a minha chance de vê-la. Ela beija meu rosto e eu desperto deitado na beira
do mar com as ondas lavando meus pés. Fico intrigado com esse sonho tão real
até que uma onda maior vem sobre mim e me acordo sentado numa praça todo
molhado de chuva. Mas e aquela mulher, quem era? Não sei!
Emmanoel
Jetro
Ps. Esse texto ganhei de presente do meu amigo Jetro. Faz algum tempo que ele me deu, mas só hoje consegui publicar. Espero que gostem.